quinta-feira, 1 de novembro de 2007

“Somos todos iguais pero no mucho”

De acordo com consultor da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgêneros (ABGLT), Caio Varela, a sociedade brasileira tem muito que evoluir em termos de igualdade de direitos. A frase citada por ele "somos iguais pero no mucho" reflete um pouco daquilo que é a cultura brasileira. Na Constituição, conforme o artigo , somos todos iguais. Mas na prática a vida para muitos brasileiros ainda está muito aquém do que diz de fato a lei.

A citação de Varela soa como um desabafo e ao mesmo tempo um suplício. Isso porque, segundo dados da ABGLT, no Brasil uma pessoa é assassinada a cada dois dias pelo fato de ser homossexual.

Com o propósito de tentar conter essa onda de violência, tramita na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado o Projeto de Lei da Câmara (PLC 122/06), que visa tornar crime o preconceito e a discriminação contra os homossexuais. A matéria já passou pela Câmara dos Deputados e levou cinco anos até ser aprovada.

Varela falou com exclusividade ao blog Mídia Alternativa: A Hora e Vez sobre o projeto, discriminação, assassinatos e de suas perspectivas quanto a aprovação da matéria.


A Hora e Vez: Como você entrou para a ABGLT?
Caio Varela: A história da minha família sempre foi de esquerda. Sempre lutamos pela garantia dos direitos de todos e todas. Na escola secundária e na faculdade participava do Grêmio Estudantil. Percebi que por ser homossexual teria que lutar muito para usufruir dos meus direitos. Percebi na prática que a violência contra os homossexuais são sempre crimes de ódio. Você deve saber que os travestis carregam o apelidado de boneca. Em função disso, um travesti foi assassinado e teve cabeça, braços e pernas decepadas. Depois costuraram os membros de volta ao corpo e escreveram no peito “essa é a verdadeira boneca”. Isso me chocou muito.

A Hora e Vez: Você já sofreu discriminação?
Varela: Violência física nunca sofri. Mas verbal, que muitas vezes é pior, sofri várias vezes. Algumas vezes não fazem na minha frente, não falam na minha cara. Ficam com chacota, estigmatizam, criam estereótipos, dizem que gay é isso e aquilo. Fazem uma espécie de diferenciação social. Mas a pessoa que é gay, ou lésbica, ou transexual é antes de tudo um ser humano que tem sentimentos e direitos como qualquer outra pessoa. Não queremos privilégios, queremos a garantia dos nossos direitos como cidadãos.

A Hora e Vez: Quais as suas expectativas para a aprovação do PLC 122?
Varela: O projeto está para ser votado na Comissão de Direitos Humanos (CDH). A senadora Fátima Cleide, que é relatora o projeto, apresentou parecer pela aprovação da matéria. Acho que na CDH conseguiremos aprovar. Depois disso o projeto será encaminhado para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e talvez aí a coisa seja mais complicada.

A Hora e Vez: E depois de passar pela CCJ?
Varela: Se não sofrer nenhuma modificação, o projeto será enviado ao plenário do Senado para votação. Se aprovado vai para o presidente Lula sancionar. Dependendo dos acordos, o projeto pode sofrer alguns vetos.

A Hora e Vez: Na sua opinião, quais os benefícios que o PLC 122 trará na prática?
Varela: O projeto é um direito de resposta para tentar coibir os atos discriminatórios. Ele também é uma contribuição para tentarmos mudar a cultura. O PLC contribui para amenizarmos o preconceito contra os homossexuais.

A Hora e Vez: Você acha que a oposição de religiosos ao projeto é justa?
Varela: Enquanto vivemos num regime democrático sim. Mas algumas críticas que se fazem servem apenas para fomentar ainda mais a violência, o preconceito e a discriminação. Esse tipo de oposição não tenho como achar justa.

A Hora e Vez: No geral, o brasileiro é preconceituoso?
Varela: Sim, é. E não apenas com os homossexuais, mas com as mulheres, os negros e todos aqueles historicamente discriminados. O Brasil é um dos países mais homofóbicos do mundo. Apesar de não ter um sistema de castas como na Índia é um pouco parecido. Somos todos iguais pero no mucho. O sistema de cotas para negros nas universidades federais revelou o preconceito de muitos brasileiros quanto ao racismo. Antes era velado, silencioso. Agora muitas pessoas se manifestam. É como se dissessem “aceitamos vocês, mas não venham com esse papo de direitos”.

A Hora e Vez: O projeto acabará com a discriminação?
Varela: Não, mas contribui para a diminuição. Infelizmente nunca poderemos dizer que a discriminação vai acabar. Vê-se pelas agressões as mulheres, o preconceitos contra os negros e a crescente disseminação de grupos neonazistas. Mas precisamos lutar com dignidade pela garantia dos nossos direitos. Esse é o nosso grande desafio.

Permitida reprodução desde que citada a fonteMídia Alternativa: A Hora e Vez

6 comentários:

Anônimo disse...

Esse PLC 122/2006 (lei da "homofobia") é uma aberração legisltaiva, que atenta violentamente contra as liberdades fundamentais das pessoas, principalemte contra a liberdade de expressão. Tal projeto de lei, absurdo, preciso ser rejeitado na íntegra.

Anônimo disse...

Realmente é muito engraçado. Para acabar com a discriminação vamos jogar todo mundo que pensa diferente na cadeia. Essa é a tal "pluralidade"?

Anônimo disse...

Muito boas as colocações do entrevistado, agora, os comentários, é de dar pena... pobreza de idéias e ausência de argumentos. É muito fácil falar quando não se está envolvido no assunto nem se sofre as consequências, pimenta no cu dos outros é refresco. Existe uma claríssima diferença entre preconceito e violência e a alegada "liberdade de expressão", mas essa diferença, apesar de ser tão clara e cabal, os medíocres não percebem, não querem, em momento algum, abrirem mão do poder que o discurso de opressor lhes confere, dane-se se o outro se sente ofendido, desde que eu me imponha, em nome de uma falida e discriminatória "liberdade de expressão"...

Anônimo disse...

Concordo com o que foi colocado nos dois primeiros comentários (Paulo Souza e Anônimo).

Pois, ao contrário do que alega o terceiro comentarista (Ricardo) NÃO existe, para os militantes gayzistas, "uma claríssima diferença" entre preconceito e violência e a liberdade de expressão. Sabemos que, para os gayzistas, qualquer palavrinha que não lhes agrade é imediatamente considerada "homofobia", "preconceito", "discriminação", etc. Portanto, segundo a "lógica" do movimento gayzista, qualquer pessoa que fizer qualquer crítica ou comentário desagradável aos cultuadores do homossexualismo será considerado "criminoso", e preso.

Em suma, como dito acima, tal lei é absurda e violenta (além de obviamente inconstitucional) e o lugar correto para tal aberração é a lata de lixo.

Alessandra Guerra disse...

Será que na opnião dos Srs que fizeram os dois primeiros comentários também é um atentando contra a liberdade de expressão que o racismo seja crime? ou vc ssacham que todos podiam sair por aí dizendo que odeiam negros? ou que deveriam converter negros em brancos?
pq ninguém diz que é atentado contra a liberdade de expressão proíbir a sociedade de dizer que não gosta de negros???
Orientação sexual é como cor de pele, não tem como mudar. faz parte da pessoa meus queridos

Anônimo disse...

Muito interessante a entrevista.
Interessantes também os comentários. Alguns revelam um profundo desconhecimento do que é o projeto, seus objetivos e sua aplicabilidade. Coisas de Brasil mesmo.

Ora dizer que isso é uma aberração legislativa revela que o autor não conhece bem o congresso brasileiro. Melhor ler mais sobre isso. Dizer que o projeto atenta contra a liberdade fundamental de algumas pessoas. Pergunto. E a liberdade de todos estes brasileiros e brasileiras que estão sendo violados desde sempre? o que fazer com isso? O Estado Brasileiro não pode ficar a mercê de grupos que determinem sua ação em desfavor de todos. Houve um tempo (que não esta muito longe) em que pessoas enterravam sua prole viva pq nasceram com alguma deficiência visível e graças a atuação de pessoas corajosas esta “liberdade” fora destituída. Houve um tempo que mulheres não podiam votar, por serem consideradas incapazes. Ainda bem mudamos a lei. Houve um tempo em que não se podia ser membro de outra religião que não fosse a católica. Ainda bem mudamos, mas eu ainda sou de um grupo religioso que é constantemente apedrejado publicamente.

O projeto não vai jogar todo mundo que pensa diferente na cadeia embora eu ache que muitos sim deveriam estar mesmo presos.
Qualificar os defensores do projeto como GayZISTAS me leva a crer que esta pessoa deve ser um profundo desconhecedor do que este movimentos Nazi e neoNazista apregoa. Ora por favor. Esta perseguição político-religiosa que estamos sofrendo revela com quem os Nazistas querem fraternalmente almoçar.

Eu defendo o projeto sim. Por todos os homens e mulheres deste País que sofreram, sofrem e sofrerão ainda preconceito. Eu sou brasileiro, tenho direito a ter garantido na constituição a responsabilização daqueles que a violarem.

Eu temo pelo atentado real a democracia brasileira. Daqui ha pouco quem não for membro de uma determinada crença religiosa será apedrejado nas ruas, queimado em praças publicas ou levado a fogueira como foram mulheres e homens ao longo de sua historia.
Por favor.. é preciso ter um pouco mais de cautela ao oferecer determinadas opiniões e como bem reza a democracia (não esta apregoada por comentários nada democráticos) a livre expressão traz consigo responsabilidades.
Quero ver sim todas as pessoas que discriminarem negros, negras, homens, mulheres RESPONSABILIZADOS cível e criminalmente.

Quero um Brasil pra todos e todas. Eu tenho direito a isso. Eu tenho direito a isso e o congresso é a casa de todos e de todas não de um grupo que insiste e pregar sua verdade absolutista.


Parabéns a HORA E VEZ , parabéns a Caio Varela. Parabéns a Senadora Fátima Cleide que tão heroicamente vem dando voz brasileiros e brasileiras.